sexta-feira, março 19, 2021

Zach Snyder's Justice League


The scream heard round the world.

Snyder parece achar que toda a gente tem a atenção e concentração duma criança - como ele - e insiste em começar os filmes com cenas dos seus filmes anteriores. Uma versão absurda de «previously, in the mind of Zach Snyder». Bem, aqui vamos nós. Vou dando umas larachas à medida que vai acontecendo, e vemos onde vamos parar.

Começamos com a cena da morte do Super-homem. Este grita e toda a gente no mundo ouve. O seu grito e esforço final são tão intensos que lançam uma onda sonora que toda a gente (que interessa para o filme) ouve, desafiando algumas leis da física, presumo.

Sete minutos dentro do filme e estou algo entediado. Até que a cena em que Wayne primeiro convida o Aquaman a juntar-se à grupeta dá-se logo à cabeça, sem preparação nenhuma, e termina com um momento demasiado longo das moças da aldeia a cantar a partida do Aquaman, com uma delas a pegar na camisola que ele deixou para trás e a cheirá-la.

Estou completamente investido no filme.

Todas as cenas têm tempo a mais, com coisas completamente despropositadas. Para além de haver violência excessiva. Há gente assassinada em barda e uma data de sangue, sem necessidade alguma. E o raio do tom sépia voltou, o que torna mais difícil ver o que seja. O homem adora tirar a «BD» dos seus «filmes de BD».

Agora, para que nem tudo seja mau, ou que se pense que só sei desdenhar: Ajuda ter tempo para contar melhor algumas coisas. A história das Mother Boxes e da briga original, com as três tribos, Atlanteanos, Amazonas e humanos, mais os Deuses Velhos e um Green Lantern, está muito melhor contada. Mesmo que a Wonder Woman tenha apanhado demasiados detalhes numa parede em catacumbas, por debaixo do Templo de Diana. A parte dos parademons, a raptar malta da Star Labs, isso caiu de paraquedas na versão Whedon e aqui está fundamentada. E a história do Cyborg realmente estava em falta. Não toda a mostrada aqui, atenção. Vamos não esquecer que Snyder só sabe fazer cenas de acção. Tudo o que envolva mais que três falas seguidas é um problema. O primeiro terço da sua «origem» bastava e estaria muito bem.

E qual é a ideia, afinal? Fazer um filme, ou fazer um filme de BD? Digo isto porque a base até pode estar lá, mas falha sempre os detalhes. Vai desde o Doomsday, o Manhunter ou o raio do Darkseid - que Snyder insistiu em meter neste filme -, personagens icónicos que não se parecem com a BD e alguns têm poderes diferentes; até aos simples atlanteanos, com uma cena em que insinua-se que todos respiram bem em terra, para na cena seguinte a Wonder Woman achar curioso que o Aquaman consegue fazê-lo. Não vou entrar no disparate que é Mera falar com um sotaque britânico.

(Estou a perder gás a meio do filme. Não é bom sinal.)

A Lois pode estar grávida?! Porquêêêê?!?!?! E para quê a cena do Martian Manhunter?! Para não variar, todas as cenas com a Lois são absurdas. A Justice League foi salva por uma coincidência, porque a Lois tem o poder incrível de estar sempre no sitio certo, à hora certa. Snyder claramente não ouviu as críticas ao MoS e ao BvA.

É na cena do renascimento e batalha com o Super-homem que começo a ver a influência do Whedon na primeira versão. E se bem que percebo que as suas ações criaram um par de incongruências, ao menos usou melhor a Lois e fez uma transição não tão violenta para o momento seguinte. Aqui houve uma cena tão barata, de usar a morte dum personagem só para ajudar com o próximo passo. Sim, eu sei, é um truque usado em milhentos filmes, mas aqui pareceu-me só feio, gratuito e nada original.

Chegamos assim à batalha final, onde se vêem bastantes diferenças. Não necessariamente para melhor, entenda-se. São só mudanças. Ficou um pouco mais linear, sem algumas saídas e entradas (na versão Whedon há um momento parvo em que o Super-homem saiu da batalha). Ajudou também não ter a família russa, que realmente foi um pormenor reles do Whedon. Já o papel do Flash nesta batalha final, a fazer exactamente o que o Super-homem de Christopher Reeve fez no primeiro Superman (e que foi amplamente criticado desde então, por não fazer sentido nenhum), é bastante parvo.

Repare-se que disse «batalha final» e não «fim do filme». Porque seguindo a tradição de clássicos como o «Senhor dos Anéis», o raio deste filme...

nunca...
...mais...
...acaba!

São cenas atrás de cenas a dar mais um bocadinho. E nenhum bocadinho é útil. Zero. O Lex foi substituído na prisão pelo tipo que ri-se... ainda mais tempo nesta versão. Temos a cena do barco depois da fuga do Lex e com este a encontrar-se com o Deathstroke. Tem ligeiras diferenças, mas o principal está lá. E logo a seguir, sem dar tempo para respirar, voltamos a ver mais uma cena do futuro apocalíptico, que continua a apresentar-se sempre como um sonho, a várias pessoas, vá-se lá saber porquê!

F##########D@@@@@@-S€€€!!! Para quê?! Já toda a gente percebeu. O futuro é uma trampa, alguém tem de viajar no tempo e salvar a Lois. Já foi dito mais que uma vez. As pessoas não têm o teu cérebro de ervilha, Zach, em que se não tem explosões não dá para registar nada. Não é preciso repetir até à exaustão! E ainda por cima a cena é longa que dói, sem ritmo nenhum. Depois de quatro horas era a última coisa que queria ver.

Não sei se dá para perceber, mas fiquei muito irritado com o final, um chorrilho de momentos pedantes a puxar ao lado emocional do público e tentar que eles exijam uma sequela e lhe dêem mais trabalho. Moral da história é: Snyder não curte cores, tira a cor a tudo. Foi ao cartaz, ao fato do Super-homem (porque ele precisava ser mais assustador, imagino) e a todo o filme, na verdade. Isto não é o «Snyder Cut», é o «Sepia Cut».

É o melhor que consigo dizer do filme. Não é que não me tenha divertido, mas fico sempre tão irritado no final. Em todos os filmes do Snyder. E não é essa a ideia dum filme de BD, caramba. São suposto ser divertidos. É assim tão difícil perceber isso?

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