Estava com medo de ver o primeiro. Um filme dos anos 80 tem tudo para ser sexista, racista ou simplesmente ignorante, aos olhos de hoje. E não é que a sequela foi muito pior!
Parece que em Zamunda são grandes fãs de música dos anos 80/90 e nada mais. Será assim em toda a África, não? Pelo menos é isso que os guionistas deste filme pensam. Ou será que são eles o fãs desta altura e do original? [Vi entretanto que maior parte dos guionistas são os mesmos, para os dois filmes. É grave só por si, pois parece que a mentalidade destes cavalheiros não saiu dos anos 80. Em vários aspectos.]
Esta sequela tornou-se tudo o de mau que se esperava que fosse. Ou seja, não defraudou expectativas. Pegou nas piadas conhecidas do primeiro e repetiu-as. Ignorou tudo o que de bom teve o primeiro (emancipação, quebra de clichês, personagens femininas fortes). Acrescentou quase nada de novo, apenas uma data de parvoíces clichês de agora.
Percebo a vangloriação dum tempo do qual se tem saudades e do impacto cultural que filmes e bandas tiveram na altura. O primeiro foi bom, em vários sentidos. Foi épico para a altura e lutou contra uma data de preconceitos. Que a mulher era mais que uma esposa apenas. Que países africanos têm pessoas inteligentes e conseguem ser progressivos. Esta sequela continua a batalhar esses mesmos preconceitos... e mal! As mulheres foram menosprezadas do princípio ao fim. E o que este rei (Murphy) acabou por permitir foi o mesmo que o anterior (Jones) já tinha permitido. E foi a custo, o que é estúpido, porque Murphy agora não queria mesmo permitir que o seu filho casasse com quem queria casar. Onde está o príncipe progressista, que citava Nietzsche, que defendia os mais fracos dos abusadores de poder, que ouvia toda a gente de forma igual?
Coming 2 America cometeu todos os mesmo erros que várias sequelas e remakes têm cometido: fez demasiado fan service e não acrescentou nada de novo. O primeiro deu palco a jovens actores (Samuel L. Jackson, Cuba Gooding Jr. ou Garcelle Beauvais aparecem, mesmo que alguns não tenham falas); meteu uma jovem Paula Abdul a coreografar uma dança que ainda hoje tem bom ar; conseguiu ter um elenco maioritariamente minoritário, contra tudo e contra todos. A sequela usa alguns actores nos mesmos papéis secundários, não lhes dando mais substância, apesar de terem mais 30 anos de carreira (Garcelle volta a não ter falas); usa bandas populares das décadas de 80 e 90 quase na totalidade (para alguém que cresceu neste período, ver Salt-N-Pepa com En Vogue foi incrível, mas de que adiantou para novas gerações?); tornou o personagem vanguardista de Murphy num pateta cheio de medo, sexista e retrógado; reduziu a relevância/influência de todos os personagens femininos a clichês.
Porque foi feito? Porque... «dinheiro». Mas não foi para os cinemas. Terá feito algum sequer?
Não valeu de nada fazer este filme, pois não?
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