sexta-feira, outubro 08, 2021

Dune


Que filme tão repleto de drama. Dentro e fora de cena. Em cena é muito teatral, com tudo a ter uma empolgância extrema. Tanto visual como musicalmente. Ele é conversas intensas à distância (uns bons quatro ou cinco metros e sem grito, vozes normais e calmas), é planos abertos de vistas bonitas, planos contínuos da cidade e partes de deserto, tudo sempre com sons graves por detrás. Não é um comentário negativo, atenção. É o que é. Fora de cena foi uma choraminguice que durou quase um ano.

A meio da pandemia (se pudermos considerar que dura cerca de ano e meio e quiçá poderá «terminar» em breve) a Warner Brothers decidiu que todos os filmes em 2021 (incluíndo os últimos de 2020) teriam um lançamento misto entre HBO Max e os cinemas. Tomaram esta acção um pouco para remediar o buraco em que o estúdio estava metido, com um catálogo constantemente a ser adiado e a acumular para 2021 e 2022. Assim, ainda sem certezas quando os cinemas iam abrir e em que condições (ou sequer se as pessoas iam querer voltar às salas) ao menos havia a garantia absoluta que o filme saía em streaming.

Obviamente que este não é o objectivo principal. O que o estúdio fez (e por «estúdio» entenda-se os directores do conglomerado onde está incluído a Warner) foi tentar meter a HBO Max a concorrer com Netflix e Disney+, garantindo mais dinheiro directo de subscrições (da qual realizadores e actores não vêem um tostão) e, consequentemente, menos dinheiro de receitas de cinema para os artistas envolvidos. Isto levou Hollywood à loucura, com toda a gente a «passar-se da marmita» porque não iam ver o dinheiro prometido contractualmente. Mais consequências virão deste tipo de acções tomadas no último ano, como ainda agora o recente processo judicial da ScaJo, que processou a Disney por ter lançado o Widow em sistema misto. Faço a ressalva que o Disney+, ao contrário do HBO Max, cobra pelos filmes nos primeiros meses no sistema de streaming. Mesmo assim continua a ser dinheiro que não está incluído nos contratos com realizadores e actores.

Para além de Nolan, o realizador deste Dune foi quem vi mais queixar-se do que a Warner fez. Em todo o lado eram entrevistas e comentários que o seu filme merecia um lançamento digno nos cinemas, que foi feito para ser visto na tela grande e não na TV em casa. Que era uma afronta para a arte... yadda yadda yadda. Claro que começou a ver que ia perder dinheiro e chorou para toda a gente que aparecesse à frente.

Não critico ninguém neste processo. A Warner tem muita gente contratada e precisa pagar contas, como qualquer empresa. E os artistas merecem ser pagos pela sua arte. Concordo um pouco menos com os segundos, porque para os que se queixam mais é a diferença entre ganhar x milhões e y milhões, mas se algo foi negociado e contractualizado, então tem de ser respeitado.

Felizmente, para toda a gente, a pandemia está um pouco menos «pandémica», os cinemas estão abertos e sim, vi Dune numa sala quase cheia. Sim, continuam a haver lugares vazios entre grupos, para respeitar-se o distanciamento social, mas foi a sala mais bem composta até agora. Mais ou menos ao nível de Shang-Chi, é certo, mas este vi em data de estreia, enquanto que Dune estreou há três semanas aqui. E assim as demandas do realizador são respeitadas, e toda a gente pode ver os mamilos do Oscar Isaac numa tela gigante. E o mundo é um pouco melhor por isso.

Sobre o filme em si não queria - como nunca quero, acerca de estreias de blockbusters - adiantar muito. Procuro evitar spoilers. Gostei do filme. Mais do que gostei do original, se bem que não é dizer muito, porque quando o vi era demasiado novo (e não sou fã de Lynch). Fora de brincadeiras, é visualmente estonteante, a banda sonora é óptima, assim como os efeitos sonoros e o elenco é de luxo. Não estava à espera que fosse apenas uma primeira parte. Erro meu, claro. Previ sequelas, mas achei que a história seria mais fechada. Não sei assim tanto deste projecto, a verdade é essa. Nunca fui - nem serei a paritir de agora - fã do franchise. Mas verei a(s) próxima(s) parte(s) no cinema com gosto.

Não sei o suficiente do projecto. Não sei quantas mais partes haverá. Venham elas, de qualquer modo.

Sem comentários: